Uso de cigarros eletrônicos vira febre entre jovens; especialista faz alerta sobre riscos à saúde
Lara Azeredo (26 anos), da Bahia começou a usar pods descartáveis para largar o vício do cigarro convencional — Foto: Arquivo pessoal
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O uso de cigarros eletrônicos se tornou frequente entre jovens que frequentam bares e festas na capital baiana neste verão. Apesar da venda não ser liberada no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), esses dispositivos atraem, principalmente, os mais jovens pela praticidade e variedade de sabores disponíveis. A compra é feita sem dificuldades pela internet.
De acordo com a Anvisa, os dispositivos eletrônicos para fumar (DEF), que também são conhecidos como e-cigarette, e-ciggy, e-pipe, e-cigar, heat not burn (tabaco aquecido), dentre outros, são constituídos, em sua maioria, por um equipamento com bateria recarregável e refis para utilização e, até o momento, não há dados claros em relação à segurança destes produtos.
A agência explicou, por meio de nota, que a comercialização, importação e propaganda de todos os tipos de dispositivos eletrônicos para fumar são proibidas no país desde 2009. A decisão é baseada no "princípio da precaução, devido à inexistência de dados científicos que comprovassem as alegações atribuídas a esses produtos". (Confira nota na íntegra no fim da matéria)
Conhecidos popularmente como "Vapes" ou "Pods", os cigarros eletrônicos surgiram como alternativa aos fumantes que desejam abandonar o uso do cigarro convencional, como é o caso da publicitária Lara Azeredo, 26 anos.
"Eu era fumante, mas não gostava do cheiro e nem de ficar fedendo ou com o gosto do cigarro na boca", explicou Lara, após contar que o cigarro eletrônico é uma alternativa para evitar o cigarro tradicional.
A primeira vez que Lara teve contato com os cigarros eletrônicos foi em novembro do ano passado, durante uma viagem a São Paulo. Desde então, passou a fazer uso constante, principalmente, quando parou de sentir ressaca com sintomas que ela associa ao cigarro convencional, como voz rouca e enjoo.
"Fui em uma festa com amigos e decidimos comprar porque é permitido usar cigarro eletrônico no meio das pessoas. Comprei um de melancia e achei muito bom. Até tinha levado uma carteira de cigarro [convencional], mas não usei", disse.
Após três meses fazendo uso de cigarros eletrônicos, Lara Azeredo garante que conseguiu diminuir a frequência em que costumava fumar. "Quando você acende um cigarro, você fuma até o final. Isso fazia com que eu fumasse bem mais que hoje em dia. Já o 'pod', por ser mais prático, eu fumo bem menos, porque dou duas tragadas e pronto", completou.
No entanto, ela destaca que quando frequenta bares e festas durante a alta estação, costuma fumar mais, principalmente se ingerir bebidas alcoólicas.
"Quando eu bebo fico com mais vontade de fumar, mas ainda assim é menos que a época em que usava o cigarro convencional. Por exemplo, em dia de sábado, quando saía para curtir com os amigos, eu usava uma carteira de cigarro inteira", explicou.
Já o analista de marketing David Palacios, 26 anos, disse que passou a fumar com mais frequência desde que conheceu e experimentou os cigarros eletrônicos há cerca de três anos.
"Passei a fumar com mais frequência por conta da facilidade do uso do cigarro eletrônico. Eu não era um fumante frequente, fumava esporadicamente", disse.
David começou a fumar cigarro tradicional "pelo prazer de produzir vapor", no entanto, se sentia incomodado com o cheiro que ficava impregnado nos dedos e na roupa.
"O 'pod' você consegue escolher o sabor, dá para controlar a quantidade de nicotina que quer fumar, porque existem diferentes concentrações de nicotina. Sem falar que não deixa cheiro ou gosto ruim como o tradicional".
Outro ponto que o analista de marketing destaca é a praticidade que esses dispositivos oferecem, já que geralmente são pequenos e cabem no bolso.
"Quase sempre estou com um 'pod' na mão, que é descartável, portátil e mais fácil de usar. Uso em bar e festa, porque tem essa praticidade, além do que dá para usar em ambiente fechado", afirmou.
Além disso, o analista de marketing garante que deixou de usar o cigarro convencional desde que passou a ter contato com os eletrônicos. "Larguei 100% o cigarro normal, desde que conheci o eletrônico".
Especialista faz alerta sobre riscos à saúde
De acordo com o cardiologista Marcílio Batista, os cigarros eletrônicos são tão prejudiciais quanto os tradicionais e uma das principais doenças relacionadas ao uso é o câncer de pulmão.
Ainda de acordo com Marcílio, o cigarro eletrônico deixa a pele mais úmida e pode causar inflamações na garganta.
"A gente tem uma umidade normal na boca e nas vias aéreas. O excesso de umidade pode gerar uma inflamação na garganta e a proliferação de fungos e bactérias".
Outra preocupação é a mistura do cigarro com álcool, que geralmente acontece em festas e bares. "A mistura de álcool e tabagismo está associada ao aumento de doenças cardiovasculares como, por exemplo, infartos e derrames".
O uso de cigarros em ambientes fechados, como bares e restaurantes, também ajuda na disseminação de doenças virais como a Influenza e a Covid-19.
"A gente está no meio de uma pandemia, se a pessoa fumando estiver contaminada pode infectar os outros no mesmo ambiente. Isso porque quando você está em um ambiente fechado, as gotículas que saem da sua boca junto com a fumaça se espalha por todo o ambiente", alertou.
Por fim, o cardiologista recomendou que é melhor não usar esse tipo de dispositivo.
"Não sabemos o quanto o cigarro eletrônico pode causar dependência nas pessoas. Não temos estudos brasileiros sobre o uso desse dispositivo, mas existem estudos europeus e americanos que comprovam que ele mantém a incidência de câncer de pulmão", finalizou.
Confira nota da Anvisa na íntegra:
"A comercialização, importação e propaganda de todos os tipos de dispositivos eletrônicos para fumar são proibidas no Brasil, por meio da Resolução de Diretoria Colegiada da Anvisa - RDC nº 46, de 28 de agosto de 2009. Essa decisão se baseou no princípio da precaução, devido à inexistência de dados científicos que comprovassem as alegações atribuídas a esses produtos.
Os dispositivos eletrônicos para fumar (DEF), também conhecidos como cigarros eletrônicos, e-cigarette, e-ciggy, e-pipe, e-cigar, heat not burn (tabaco aquecido), dentre outros, são constituídos, em sua maioria, por um equipamento com bateria recarregável e refis para utilização.
Até o momento, não há dados claros em relação à segurança destes produtos.
Desde a publicação da RDC nº 46/2009, vários estudos têm sido realizados com o intuito de avaliar os conteúdos das emissões, de mensurar os impactos à saúde e de descrever os riscos associados a esses produtos. Até o momento, ainda restam incertezas e controversas relativas ao uso e aos riscos atribuídos a esses dispositivos.
A fiscalização do consumo e venda ilegal de tais produtos é incumbência das vigilâncias sanitárias regionais, em acordo com o pacto federativo".
Fonte: G1
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