Mandetta é demitido do Ministério da Saúde por Bolsonaro
De última hora, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM), 55, foi chamado ao Palácio do Planalto para uma reunião com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) às 15h45 de hoje. A equipe do ministro afirma que a expectativa é de que a demissão fosse publicada em uma hora.
O encontro ocorreu fora da agenda oficial do presidente. No Twitter, ele anunciou a demissão às 16h17. "Acabo de ouvir do presidente Jair Bolsonaro o aviso da minha demissão do Ministério da Saúde. Quero agradecer a oportunidade que me foi dada, de ser gerente do nosso SUS, de pôr de pé o projeto de melhoria da saúde dos brasileiros", escreveu.
Mais cedo, o oncologista Nelson Teich se encontrou com Bolsonaro em Brasília. Fontes do Ministério da Saúde informaram ao UOL às 16h10 que ele foi escolhido pelo Planalto ao cargo.
Além de Teich, se falou nos nomes de Claudio Lottenberg, presidente do Conselho da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, e de Roberto Kalil Filho, do Sírio-Libanês e que usou cloroquina contra o coronavírus.
A retirada de Mandetta do governo, consumada hoje, já era esperada desde o início da semana passada. O protagonismo que Mandetta ganhou por liderar a atuação contra a covid-19 foi um dos pontos que incomodou Bolsonaro. A aprovação do ex-ministro era maior que a do presidente, segundo pesquisa Datafolha.
Questionado sobre impactos permanentes da pandemia e sobre os planos para o futuro, Mandetta disse que o país terá dificuldades econômicas e, no âmbito pessoal, brincou: "Talvez começar com uma entrevista de emprego".
Ministro se diz cansado
Ontem, Mandetta desabafou em entrevista ao site da revista Veja sobre os desgastes vividos com Bolsonaro durante o enfrentamento da pandemia do novo coronavírus e admitiu que deixará a pasta. O presidente é contrário às recomendações do Ministério da Saúde, da OMS (Organização Mundial da Saúde) e de especialistas sobre a eficácia da quarentena para reduzir o número de casos da covid-19. Mandetta se disse cansado após dois meses de trabalho.
"Sessenta dias tendo de medir palavras. Você conversa hoje, a pessoa entende, diz que concorda, depois muda de ideia e fala tudo diferente. Você vai, conversa, parece que está tudo acertado e, em seguida, o camarada muda o discurso de novo. Já chega, né? Já ajudamos bastante", afirmou ele.
Mandetta já havia criticado Bolsonaro em uma entrevista ao Fantástico no último domingo, quando disse que o brasileiro não sabe se escuta ele ou o presidente e previu momentos difíceis em maio.
Ainda ontem, o secretário de Vigilância em Saúde, Wanderson de Oliveira, chegou a anunciar sua demissão do Ministério da Saúde —- depois rejeitada por Mandetta. Segundo Oliveira, esse processo vem já há algum tempo e que a mensagem era se preparar para sair junto com o ministro.
Choque de ideias com Bolsonaro
A demissão de Mandetta coloca fim em uma gestão marcada pelo embate com o presidente sobre o combate à pandemia ao novo coronavírus.
A recomendação irrestrita do presidente para o uso da cloroquina contra o novo coronavírus, apesar de ainda não haver comprovação científica sobre a eficácia, foi outro fator de faísca.
Mas, mais do que isso, a defesa do agora ex-ministro para que o país siga as recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde) para brecar a proliferação da doença no país gerou atrito com Bolsonaro.
O presidente é a favor da tese de que a economia não pode parar e que apenas uma parcela da população deveria ficar em isolamento.
Mandetta, por sua vez, segue a ideia de restrição de circulação de toda a população, o que, segundo a OMS e especialistas do mundo, ajuda a diminuir a quantidade de contaminados, dando fôlego ao sistema de saúde para tratar os doentes por coronavírus.
Mandetta sempre sustentou que não sairia do ministério por conta própria, mas apenas demitido. "Médico não abandona paciente", costumava a a dizer em suas entrevistas coletivas.
Respaldado pela ala militar do governo em meio às crises com Bolsonaro, Mandetta viu seu apoio cair dentro do governo depois de, no último domingo (12), dar declarações em que fez críticas ao presidente durante uma entrevista ao Fantástico, da TV Globo.
Foi a gota d'água em uma relação que levou a atenção da população para questões políticas em meio a uma pandemia que, apenas em seu início, já matou mais de 1.500 pessoas no país, com mais 25 mil casos registrados.
Fonte: UOL notícias
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